sexta-feira, 24 de agosto de 2007

ASSA-SSINA DA POESIA

Eu traio a gramática,
sem pudor,
sem ódio e sem saber.

Eu traio a gramática como quem não enxerga,
como quem não se importa,
como quem não sabe se comportar.

Eu traio sem ódio?
É mentira!
Fujo do tédio,
da época,
da seda,
da merda de ser gramatical.

Eu maltrato a gramática.

Fujo dela, piso, sou descauteloso e maldoso com ela.
Eu bato, eu faço e fato - é não gostar, mas eu gosto e não tenho respeito.

Sou infiel com a gramática.
Cafetão da palavra.
O "outro" da estética.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

HORA DE VIR-E-VER

Hora de viver!
Disse e bateu a porta num pulo de assustar,

e veio,
e foi e de novo,
disse que era hora de viver.

A sombra foi-se com a porta fechada,
o corpo foi com a chama apagada.

A hora de viver deu-se em segundo tempo de estar,
eu me plantei em três sinônimos de sentir, e estou.

Assim todos estão vivos no antônimo da verdade.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

AMOR & ARTE

A arte é
vírgula no desespero
reticências na alegria
exclamação na atitude
interrogação na explicação
dois pontos no pensamento
ponto final na poesia

Ah

e o amor
não tem pontuação

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

UM POEMA PRA SANTINHA

Um poema pra Santinha e outro pro meu desejo. Uma palavra pro baculejo da minha caixa cardíaca e um beijo pra boca de Santinha, que não beijei nem senti. Uma paixão pra Santinha! Eu, aqui, garôa lá fora, tempestade aqui dentro, pensamento em Santinha, pingo de agonia, frio de esperança. De nada vale, você, Santinha, se você, Santinha, não está aqui. [?]
Caldo de feijão, café, suco de maracujá, suco de você, Abyzz no rádio – e tu, nos meus pensamentos. Uma ordem pra Santinha! Tenta aí do seu jeito brincar de casinha com uma esperança. Tenta aí como pode, lembrar que penso em alguma coisa que não seja eu e você como pessoa, como gente. Pensa na gente, pensa, Santinha que não me tem.
Hoje tentei não ser sofisticado com meus argumentos. Só queria, assim, Santinha... Dizer, sei lá...
Cheguei, abri o Illustrator, carreguei a pistola, deixei o relógio sem marca sobre a mesa, chaves, carteira... Abri o MSN e dei de encontro com uma solidão pagã. Santinha, tenho uma coisa pra te contar, além, muito além do que você sabe e imagina que eu poderia falar... (que eu poderia sentir ou fazer). Imprevisível é minha vontade. Vontade santinha.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

GONGELA ESTE MOMENTO DE PA[I]Z

Congela! Pra congelar aí, é bom. Congelar um momento feliz. Preto e branco, pai e eu, sem motivo, só amor. Eu, quem? Falando do amor? Deus, tão improvável quanto o tal, tão imenso quanto o mal, porém o contrário do tal. Congela! Espera, pai, que tô te abraçando. Vamos revelar o retrato? Vamos, hoje fazer um relato? Abstrato? Lembra que tomei Biocid pensando que era charope? Congela! De-sen-tox-ica com amor, com paciência, com pai. Com você, sem mundo, sem ninguém. Só, dois, só, nós. Congela a vida aí dois minutos que eu quero escrever uma carta pra vida dizendo as pa-lavras que curam feridas. Quero mais, que tudo mais, dizer assim: congela desse jeito que é desse jeito que quero a paz - assim, sem dúvida que haverá guerra entre nós e a vida, de novo, assim...? Deixa derreter e liqüidar algum mal que reste, algum maU que vista, o contrário dessa paz. Pai.
[3:48 da madrugada de quarta-feira.]

O PROBLEMA DE EJACULAÇÃO PRECOCE DO MARIDO DE ZEFINHA

- Vai, amor...
- Fui!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

QUALQUER COISA EU VOU ALÍ E MORRO

Não. Vou sair mas não volto, mãe. Por-que sim, por-que quis, por-que quero. Né o mundo, mãe? Quem? Eu? Não beber, não fumar, não trepar, não fazer, não ir, não vir. Quem, eu? Certo, pai. Viagem, coragem, asfalto, assalto, salto, pulo, morro, vivo, corro, sirvo, de novo, tráfico, tráfego, traço, masso, fumo – sumo - e volto. Vivo? Vivo. Morto.

(Inspirado numa Canção de Ninar)

O NADAADECLARAR DE RAIMUNDO VEREADOR

Pois? A ciência a globalização minha mãe o jogo meu filho foi pra escola tô doente. Quer? Queria mas não hoje tem festa de golfe de peça de arma de fogo de jogo de bola de sola de nado de pesca. Pode? Podia mas posso não posso ou posso um troço do carro quebrou a perna da vó do meu filho a sogra arrumou um marido sofrido. E a culpa? Posso dizer a culpa é sua infeliz.

(E pessoas ainda comem porcos.)

A BOLA É PRETA MAS NÃO É PRO SEU BICO, JOÃO.

João tem uma bola preta João uma bola preta tem uma bola vi João com ela tem uma bola preta mas é de João que mora perto do campo tem uma bola preta no campo João joga bola preta com a bola de João.

De quem é a bola preta?

Crasso, Crássico, Português, Ignorês, Mestradês e eu sem pesquisa: a bola é de João, mas não é o João do texto. É outro João.

(Obrigado, Marcos Bagno.)

JÁ FUI ALUNO

Buh! Hoje é dia de faculdade e eu acordei bem cedo: meio dia. É, as aulas só começas às sete.
O que será que vou encontrar por lá hoje? Após um ano sem. Bah! Gente feia, parece limpa, ótimos livros, gente burra, alunos-ótimos-profissionais e professores inexperientes. Ah, mas tem humano bom e sabido por lá. Os que andam calados no corredor. São feios, de óculos, camiseta sempre previsível e sapatos estranhos.

MIGUEL DA VIDA

Miguel de rua,
Miguel de violão e saco,
toca na rua.
Passa burguês,
passa malandro,
passa saia rodada,
passa cachorro,
passa gravata.
Miguel e o saco,
tremendo de moedas e frio,
medo-não, frio e esperança,
empregado do tempo sem cobrança do tempo,
sem cobrança da esperança.
Miguel sozinho,
só abraça o violão,
só exibe seus feios dentes e sua graça,
graça de violeiro,
graça de gente.
Fim do dia e é dia pra Miguel,
troca o saco por chapéu e lá vai cavalgando na lembrança.
Noite, frio, Miguel e o tempo, o tempo de criança:
violão, chapéu, noite, frio, moeda, vento, lembrança, cobrança...
Mas Miguel tinha família.

domingo, 5 de agosto de 2007

NÃOLERESTABOSTA!

Camila mandou ninguém ler ESTABOSTA. Gente feia que me visita, evita tentar escutá-la. A palavra em caixa alta é grega. Ela nem troiano nem gréia, nem grilo, nem agrado de nada. Camila da madrugada recomenda ninguém ler, e eu o rei daqui recomendo não a ler. Ler? Pois é, Doutor, corro um sério risco de pegar LER, mesmo.
Camila cala-boca que assim não flui! Engüia minha idéia, bufe minha lógica mas não desfaça-ele minha teoria de nada. Café e espada, navalha e toada. Merda. Bem que ela avisou. Vai confiar em mim, vai. Cortei-te-ei-te com minha na-valha alguma coisa, te fe-di com a bufa dela e te matei com minha idéia. Durma sem pensar.

ADELINA LEVOU MEU OVO

Vem alí! Adelina Shivalsier, cavalgando num cachorro, lembrança de filme antigo, castigo do filme ruim, covardia do que perdi. Lá. Lá. Vem. Adelina da Silva Shivalsier. Eu tava indo contar pra ela sobre meu sonho. O de ontem. E nem esperou-me-ei-me descer da árvore com meu pato vinho, ovos brancos caindo pinto. Lá! Adelina Cavalcanti da Silva Shivalsier! Ei, moça feia sem rumo que paizinho mandou não dar linha! Adelina da roça, do mato, do meu sonho. Venha cá!

Pai foi alí comprar o doce sem sal de veia, mas vem ver ainda se me vê, e Adelina, anja, some com teu cavalo do lado alado, ao lado do meu ovo de pato [pato = masculino de pata] - corre pra bem longe da árvore e do meu pensa-mento canino oval e malicioso. Ei, Adê, te passa sem me deixar, me deixa sem passar e vai sem ir que te quero aqui sem nada. Só tu. Adelina do meu sonho de ontem.

SE É QUE ISSO NAVALHA ALGUMA COISA

Na madrugada eu venho aqui. Só. Só na madrugada. Nem vim ontem. Não havia blog, não havia nada. Nem eu havia, nem a via pra me inspirar-me-se. Português aqui é de tôco, cadêra, e dizispêro; é semanticial, igualítico a nada(!) - assim, despontuado e desfeito - que não é defeito, é nada. E à nado deslimitado de cons-ciência sabida e boa. Meia noite e dezoito, sem biscoito, sem nada. Vontade, café e navalha, na vala do pé frio, sem rumo.
Escrever o (que) que não me vem? O (que) que você tem aí lingüistico e fá-tico - tico e taque do mouse fim da linha da lembrança do risco cursor fisco-com a idéia? Bom dia, sem vontade de ser.

FILOSOFIA SEM RECEITA E SEM BEIRA

Pedregulho de sapato

pêlo

de rato

apelo de sapo

pra

vassoura

sôa abstrato

o

som

do prato

caco

chão

corte

mão

não

sangra em vão

o sapo

eu

mato

o rato

eu

e

você

na cozinha

do nosso sonho.

sábado, 4 de agosto de 2007

PENA DA VIDA

Eu só quero um chão pra deitar


uma pedra pra me encostar



uma pena pra escrever



no chão



a beleza da pedra



sem pena



de mim.


sala de visitas t e n o r i o c a v a l c a n t i

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