sábado, 1 de dezembro de 2007

RETRATO

Crônica de um Fotógrafo de Guerra


Eu fui ao Golfo. Trincheira, badalo, bala, osso e sangue – e desespero e terror e suor – e flashes em meio os escombros de almas, que se confundem com o barulho cristal do meu bruto obturador. Lá, no verde, no mar, na calma e no café, os retratos saem como gosto, com gosto e cheiro e som de passarinho e até tristeza de lembrança de passado. Na guerra, quem fotografa é o medo, a astúcia da morte no encalço, o embaraço – traço da lágrima, a desesperança e o laço que faz canal com a sorte. Click – Boom! É a minha melodia. Corpos e vidas. Sofrimentos paralisados em preto e branco, o sangue é rastro, o rastro é susto, o susto é morte e só eu escapo e fotografo. O que me mantém vivo é a morte. Filme que me passa, cheiro, barulho que me maltrata em meus dias de paz e passarinho, verde e vinho cor do sangue da desgraça. Em minhas paredes, ainda se sustentam os retratos da guerra, agonia que se encerra no clicar de um obturador.

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